segunda-feira, 1 de julho de 2013

Talvez fosse um vício.

Olhei meu reflexo no espelho do elevador e vi que a barba estava a fazer, minha gravata frouxa, minhas olheiras mais profundas do que nunca... Eu precisava ir para aquilo que chamava de casa. Fui rastejando até o carro, abri a porta num ranger violento e me joguei no assento de quase concreto. Após uns dez longos minutos de resmungos, a lata velha resolveu funcionar e segui para o congestionamento paulistano. Pensei em passar numa lanchonete, mas naquela altura do campeonato, depois de duas horas buzinando, minha fome havia sido arrancada como se tira o filho dos braços maternos: sadicamente.
Ao subir as escadas deparei com o vizinho e uma de suas companheiras, ela tinha uma beleza forçada e olhar desesperado, gritava por uma saída daquela vida fútil e vulgar. O velhaco do apartamento (ironicamente) 51 tinha uma acompanhante por noite; eu sinceramente não sabia de onde saiam todas aquelas mulheres... Parei de frente a minha porta, suspirei e girei a chave.
O ar úmido e frio era o mesmo, o qual deixei pela manhã... Eu realmente esperava algo de novo, um gênio da lâmpada ou algo assim. Meio desacreditado com a vida fui tomar uma ducha quente para desenferrujar as articulações e, quem sabe, a alma. Lembro-me de minha mãe dizendo que qualquer dia eu pararia no hospital, em consequência dos meus banhos ferventes. Acho que ela me considerava um pouco louco, deveria ser por isso que mal me ligava. O estômago reclamou, o filho voltara agitado e com fome. De repente, um macarrão instantâneo nunca tinha me parecido tão atraente, seria ele minha refeição. Igualmente fora ontem, antes de ontem, semana passada, antes da semana passada... Antes e de uns anos para cá, sempre. Saciei-me e fui dormir.
Ou pelo menos tentar. Minha mente focava cada objeto empilhado que eu tinha no meu quarto, parecia que a qualquer momento criariam vida e devorariam meus pensamentos. Dormir, foco. Os ponteiros do meu despertador pareciam estar pesados, arrastavam os segundos um por um. Tic: amanhã eu precisaria pagar o aluguel. Tac: teria eu recebido o salário? Tic e tac. Os tempos eram difíceis, gasolina e inflação sempre em alta. Pois bem, eu teria que me render aos comprimidos novamente, meu cérebro não parava de maneira alguma de funcionar, apenas com os medicamentos. Talvez fosse um vício, talvez somente. Comecei a piscar, isso era bom. Seria o sono? Se sim, que viesse e se sentisse em casa. Era exatamente tudo o que eu aspirava: um abraço letárgico, o descanso efêmero.

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