domingo, 30 de junho de 2013

Lamento de um coração partido.

O rosto era entalhado no mármore, as maçãs delimitavam um sorriso estonteante, rosavam quando eu a fitava e os olhos não eram vazios como as estátuas clássicas, cintilavam. Lembro-me nitidamente daquele clarão ao me mirar e do meu peito se enchendo de contentamento, eu não conseguia imaginar nenhum lugar melhor para estar. Bons tempos eram aqueles que ela me pertencia… Gostaria dos dedos gelados e calculistas entrelaçados ao meu cabelo mal cortado, o som anestesiante da sua voz suave. Meu Deus, como eu sinto falta do humor de quimera, ácido e risonho simultaneamente – seria possível que algo tão sobrenatural existisse? Existia; porém agora só me restam suspiros e sonhos.

Noite dos mascarados.

Em lados opostos do salão, dois mascarados se entreolhavam discretamente, como se procurassem um alguém por meio da multidão fantasiada. Pierrôs em preto e branco balburdiavam ao redor das bailarinas, todas rendidas aos desejos da dança. Lá Colombina, acolá Arlequim. Ela de lábios rubros e ombros nus, ia de encontro com seu pomposo cavalheiro ao som de sublimes flautins. Entrelaçadas foram as almas dos dois palhaços, no contagioso ritmo circense. Os olhares enfeitiçados consumiam o compasso da valsa vienense.

Ter nome é ser gente?

Raimundo estava exausto de ser rima e foi tentar ser solução, porém respostas lhe faltavam. A cabeça oca e ignorante transbordava questionamentos. Resolveu ir ao cartório e mudou seu nome para Brás Cubas. Não deu tão certo quando gostaria… Nem ele conseguia explicar a palidez fúnebre e o humor negro em seus discursos. Quando o batimento pareceu falhar, correu para o cartório novamente – não poderia transmitir a nenhuma criatura o legado de sua miséria.
Bento seria; Bentinho para os mais próximos. Já Capitu o fitava, com seus olhos de cigana oblíqua e dissimulada, como se ele fosse presa. O homem limitou sua vida ao amor desenfreado e conheceu a desconfiança. Traído pela própria razão de existência, tentou ser gente pela última vez. De nada adiantou, pois José fez rimas e criou Raimundo, zombou dos outros como Brás e, por fim, ficou sem mulher igualmente Bentinho. E agora, José? Qual nome?