segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

De uma Maria para um João.

Querido João, sinto sua falta.
Como tantas outras Marias sentem falta dos seus Joãos.
Como tantas outras mães que acodem o grito dos seus filhos na promessa de comida na mesa. Como tantas outras esposas que sentam na beira da cama e choram em silêncio à beira do abismo. Como tantas outras trabalhadoras que rezam por uma gota d’água na seca do sertão. Como tantas outras que suplicam à Deus em vão. Como tantas outras de pele rachada que vendem tudo o que têm para ter menos ainda. Como tantas que só esperam.
Sou como tantas Marias que desejam ser Julieta. E você é como tantos Romeus inventados.
Mas sinto sua falta, João. João você. João meu. João único.
E cansei de pensar em quantas léguas nos separam, quantas estações nos distanciam. Quantas paisagens, quanta gente... Quanto tempo.
Com a força de todas as Marias, peço que você volte. E com o meu amor, peço com urgência. Volte, João.
A saudade já contornou o mundo em busca de seu sorriso caminhando pela estrada.
Espero que ela tenha o encontrado,
Sua Maria.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Pó.


Talvez sejamos um nada. Um nada que guarda tudo dentro de si. Veja bem, um vaso – por mais vazio que esteja – sempre estará cheio de ar. E no ar há uma infinidade de coisas. Talvez sejamos tão ineptos quanto éramos há dois milênios. Afinal, hoje conhecemos a lua, porém não podemos explicar como as pirâmides egípcias foram construídas. Montamos teorias e conspirações em cima de suposições controladas.  Por conta dessa exatidão matemática em não explicar os por quês do universo, criamos divindades para justificar nossa ignorância... E ainda batemos no peito com orgulho por nos autodeclararmos evoluídos. Por que assim seríamos? Se um vírus ou bactéria pode dizimar a população terrestre inteira em poucos anos, por que somos nós os evoluídos? Da peste bubônica à AIDS, milhares de milhares de pessoas se tornaram pó. E ainda se tornam, todos os dias, apenas pó. “Se já somos pó, qual a diferença existente entre vivos e mortos? Os vivos são o pó levantado pelo vento, os mortos são o pó caído.”, Pe. Antonio Vieira. E quem há de discordar? Tudo, no final (se é que se existe um) se torna uma partícula insignificante na história. Todas as coisas boas e ruins que fazemos são como um grão de areia na praia. Ordinário, mas capaz de cegar alguém dependendo da velocidade a qual é atirado contra a pupila. Incontáveis. Grãos de areia são tão imensuráveis como gotas d’água oceânicas. Entretanto, o ser humano já inventou um número que faz da areia e da água coisas grandes. Mas o que é realmente grande perto da imensidão extraterrestre? Mistério. Aliás, somos o mistério. Não nos conhecemos, quem dirá o resto do mundo... Talvez deveríamos ser menos mesquinhos. Talvez se a ganância fosse substituída pela humildade socrática, nós enxergaríamos alguma coisa. Somos seres inconscientes da própria catatonia. Estímulos externos podem confundir os sentidos. Vivemos na caverna de Platão. A solução? Ela não paira na abertura dos olhos ou dos ouvidos, mas na libertação da mente.