quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Vitória de Pirro.

Fora outra vitória de Pirro? A referta miséria fora erradicada? Adiantara enfrentar um mundaréu de chaminés petrolíferas para se trancafiar em um cubículo de máquinas e carpete? Trouxe a tal da felicidade? Ou satisfação financeira? Reconhecimento social, talvez… Mas se o espírito era necessário, mal havia nexo. Não era a poesia que alimentava a alma? A música, as praias, as montanhas e vales… Precisávamos fazer arte para concretizar a esperança e estávamos todos lá, na selva de concreto. Queríamos o regozijo, porém mal víamos o sol. Como seria possível tal paradoxo? Existir sem a fonte vital… Quanta alienação era vendida nas ruas? Quanta ignorância cabia na nossa juventude? Diziam que aquela realidade fajuta se chamava vida. O que sabiam aqueles infortunados? Que entediam sobre viver? Nasceram e morreram na mesma caixa, nós a demolimos. Talvez seja por isso que ainda respiramos, não temos fuligem nos pulmões. E estamos aqui a destino de que? Sermos velhos hipócritas que vivem das glórias passadas? Que glórias? Não há nada que não tenha se perdido na arrogância do pseudoconhecimento. Vencemos os anos a que custo se não a própria morte? Amamos qualquer lembrança como se não fossemos egoístas e nos agarramos a qualquer promessa como se nunca houvéssemos as quebrado. Cadê a liberdade do lado de fora? Onde fomos parar?

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Carta a Tereza.

Tereza,
Não sei quem és e muito menos sabes quem sou. Ouvi dizer que fazes do Leblon teu mundo e da orla carioca tua casa. Seria verdade? Espero que sim, pois, caso contrário, minha carta não teria propósito algum para ser escrita. És a Tereza certa? Tens pele morena e cabelos castanhos? Lúcio me contou sobre uma pinta também. És tu, Tereza? Dick mandou lembranças aos teus olhos incrivelmente verdes. Sentem tanta saudade daqueles verões e invernos, os quais passaram juntos de ti, que até eu sinto tua falta.
Entretanto, tu pertences à praia, não é mesmo? Às ondas, ao sol, ao mar e aos poetas... Brincaste entre as cordas vocais de Jobim,  Blanco, Chico, Caetano, Roberto e, claro, Dick e Lúcio. Não sei se tu deverias sentir vergonha ou satisfação. O que sentes? Que pensas? Só penso na utopia de ti.
Não componho rimas sobre nada, mal sei cantar um sol. No entanto, posso te oferecer a simplicidade de ser ninguém. Gostarias de não existir entre as sombras da fama, Tereza? Numa casinha, num lugar qualquer. Sem problemas ou hora para atrapalhar. Deixa a moça de areia em algum lugar da cidade maravilhosa e vem ser apenas mulher. Permite-me ser tua solução para a dor de uma vida vazia. Um mundo vasto de nós nos espera.
Aguardo, na ansiosa solidão, a ti.
Do teu desconhecido admirador,
Raimundo.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Anagramas.

Omar era marinheiro.
Navegou até Roma
e agora mora por lá.
Deixou ao seu amor
um ramo de saudade.
A fim de ser feliz,
pediu forças a Deus
e disse adeus para o mar.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Outono.

Os adjetivos mudavam. As árvores se despiam mais uma vez. Centenas de guardanapos viravam poesia. Copos eram jogados goela abaixo em busca de redenção. Acordes lúdicos dedilhados nos corpos esculturais das mulheres personificavam os desejos de uma marcha. Dançava-se tango nas quitinetes paulistanas, mas em qualquer frequência se esbanjava a inocência da jovem guarda. Vivia-se na incerteza dos preços, debaixo dos panos de iê-iê-iê. A poluição se misturava com as chaminés de tabaco avermelhando os crepúsculos diários. Eram tempos difíceis, hoje são de saudade. Trabalhávamos num cubículo, agora o somos. Robotizaram o mundo, nos despejaram da nossa própria realidade. O limbo social da nostalgia já é a nossa casa. 

domingo, 4 de agosto de 2013

Amanheceu.

É madrugada.
As estrelas me servem de companhia,
tanto o Cruzeiro do Sul
como as famosas Três Marias.
Vejo-me Medusa, mas peço
a Zeus para ser quimera.
Não quero me limitar em ser uma só.
Sou o infinito.
E que o cinturão de Órion
seja deslumbrado por isso.
O sem fim rende-se ao palpável.
O mundo é mais bonito,
quase inigualável.
Que sonhem os exagerados,
pois beleza não alimenta a alma.
Com os lábios lambuzados de poesia,
vejo o prata escaldante amar a noite.
De repente, num passe de mágica,
numa troca de fantasia,
sem pedir licença ou ter cortesia...
Amanhece.