segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Melindrosa.

Admirava seu reflexo com ar narcisista. Rosto esculpido no pó de arroz, lábios banhados no mais rubro dos batons. Os olhos artificiais escondiam os mistérios de ser mulher. O tabaco consumia os pensamentos, a bebida queimava a garganta.
Já era hora de entrar no palco numa noite como qualquer outra, num botequim como outro qualquer. A moça deixou seu desespero junto da penteadeira empoeirada e se entregou aos holofotes.
Sua voz fazia cantar parecer natural. Para ela... Era. Jogava as notas a esmo junto aos sopros metálicos e à paixão exuberante do jazz. Arrancava as tripas d’alma e esparramava-as aos pés do público soberbo. O saxofone a vestia com a loucura de ser. Seus pulmões clamavam por arte e recebiam humildes uma rajada de ar.
Era musa. Era melindrosa. Era a própria música.
Era o som dos aplausos ao anoitecer.

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