Admirava seu reflexo com ar narcisista. Rosto esculpido no
pó de arroz, lábios banhados no mais rubro dos batons. Os olhos artificiais
escondiam os mistérios de ser mulher. O tabaco consumia os pensamentos, a
bebida queimava a garganta.
Já era hora de entrar no palco numa noite como qualquer
outra, num botequim como outro qualquer. A moça deixou seu desespero junto da
penteadeira empoeirada e se entregou aos holofotes.
Sua voz fazia cantar parecer natural. Para ela... Era.
Jogava as notas a esmo junto aos sopros metálicos e à paixão exuberante do jazz.
Arrancava as tripas d’alma e esparramava-as aos pés do público soberbo. O saxofone a
vestia com a loucura de ser. Seus pulmões clamavam por arte e recebiam humildes
uma rajada de ar.
Era musa. Era melindrosa. Era a própria música.
Era o som dos aplausos ao anoitecer.
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