"Aqui jazem meus poemas." - pensei eu olhando para
a tela em branco do computador. Não havia mais sobre o que escrever. A mulher,
o homem, a lua, o sol, o dia, a noite, a vida, a morte, a paixão, a dor. Tudo
já fora registrado em algum dia ao longo da minha pequena trajetória literária.
Incrível. O que antes me aliviava, me dá taquicardia. Mãos suadas, desânimo. É
um vazio completo no berço da inspiração. Roubaram minha criança e agora estou
desamparada. Desolada. Cada palavra que tento digitar parece oca, sem
sentimento. Cada parágrafo se torna a definição de vácuo. A diferença de
pressão entre uma frase e outra é estratosférica. Aquela sensação estranha que
a gente sente no ouvido ao descer a serra para o mar era de se enlouquecer. Nem
o papel com a caneta - nem com esse encontro épico - saía algo que se quer
tocasse alguém. Talvez fosse esse o problema. Eu parara de escrever para mim e
começara a escrever para os outros. Não que isso fosse algo ruim, pois confortar
alguém com suas próprias frases feitas é realmente uma sensação magnífica. Um
pouco prepotente também, afinal palavras são apenas palavras. O que conta mesmo
é o que a gente faz, não é? Aquelas pequenas coisinhas. Uma ligação de bom dia
ou uma flor sem qualquer propósito. Pelo menos foi o que me disseram. Não
presenciei essas coisas. Sempre fiquei enfurnada no meu apartamento escrevendo.
Me disseram.
Palavras. É, no fundo, acho que tudo se resume à elas mesmo. Podem
ser até apagadas do papel, mas ficam gravadas na memória das pessoas. São
cicatrizes. Eu já estava marcada, como se tivesse escrito um livro com compasso
na minha própria carne. Ou algo menos trágico, como uma tatuagem. Eterna. E por
ser sempre tão visível, não conseguia pensar em novos traçados ou cores. Era só
o preto sólido na minha pele de mármore. Poemas curtos, rimas vulgares e um tanto
de nostalgia.
As palavras jazem/nas logo recuperam a vida/e se preparam para existir/ em novos poemas/com mais fôlego/ e energia redobrada. Parabéns, Gabriella, pelo blog e pelos textos.
ResponderExcluirObrigada, Jaime!
ResponderExcluirlindo... já mais maduras, as palavras ecoam um certo vislumbre de lucidez!
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