quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Incêndio.

O céu passou de azul para cinza
como se as árvores fossem chaminés.
Era possível sentir o cheiro da fuligem de longe.
Londres?
A natureza gritava por ajuda.
Acudam! Acudam!
Ocupado.
Acudam! Acudam!
Ninguém.
Apenas telespectadores petrificados.
Do cinza para o vermelho.
Mais fumaça e mais fumaça.
Na fumaça, fogo.
Com certeza onde tem fumaça tem fogo.
Muito fogo.
Fogo nas alturas.
Junto a ele o estouro dos bambus.
Pareciam tiros.
O céu jorrava sangue.
O ar cheirava morte.
No chão, preto fúnebre:
jaziam as árvores, as flores, os frutos.
Sem água.
Sem os vermelhos que salvam.
Sem os vermelhos que apagam o céu de sangue.
Assim foi até a noite cair.
Caiu feio, se esborrachou no dia.
O alaranjado cortava a escuridão.
Telespectadores admirando o contraste.
Nenhuma gota d'água.
Nenhuma ajuda.
E, então, as casas.
As edificações experimentariam o fogo do mato?
Não, não podiam!
Diziam-se vitais.
E por que a natureza podia?
Ninguém sabia.
Sempre ninguém.

2 comentários :