segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Outono.

Os adjetivos mudavam. As árvores se despiam mais uma vez. Centenas de guardanapos viravam poesia. Copos eram jogados goela abaixo em busca de redenção. Acordes lúdicos dedilhados nos corpos esculturais das mulheres personificavam os desejos de uma marcha. Dançava-se tango nas quitinetes paulistanas, mas em qualquer frequência se esbanjava a inocência da jovem guarda. Vivia-se na incerteza dos preços, debaixo dos panos de iê-iê-iê. A poluição se misturava com as chaminés de tabaco avermelhando os crepúsculos diários. Eram tempos difíceis, hoje são de saudade. Trabalhávamos num cubículo, agora o somos. Robotizaram o mundo, nos despejaram da nossa própria realidade. O limbo social da nostalgia já é a nossa casa. 

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